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Deficiência de Ferro na Obesidade: Uma Complexa Relação

A relação entre obesidade e deficiência de ferro pode parecer contraditória à primeira vista. Afinal, espera-se que o excesso de calorias forneça todos os nutrientes essenciais ao organismo. No entanto, diversos estudos apontam que adolescentes obesos apresentam níveis séricos de ferro mais baixos em comparação com aqueles com peso adequado. Mas por que isso ocorre?

Neste artigo, exploramos os mecanismos por trás dessa relação, com foco no impacto da inflamação crônica associada à obesidade na absorção e biodisponibilidade do ferro.

Artigo: The hematologic consequences of obesity – Purdy – 2021 – European Journal of Haematology – Wiley Online Library

A Relação Entre Obesidade e Deficiência de Ferro

O ferro é um nutriente essencial para o organismo, desempenhando um papel crucial no transporte de oxigênio e no metabolismo energético. Em crianças e adolescentes, a demanda por ferro é ainda maior devido ao crescimento acelerado. No entanto, mesmo com uma ingestão calórica elevada, indivíduos obesos podem desenvolver deficiência de ferro.

Estudos de longa data mostram uma correlação entre o aumento do Índice de Massa Corporal (IMC) e a redução dos níveis séricos de ferro. Isso sugere que fatores metabólicos e inflamatórios podem interferir na absorção e no aproveitamento desse mineral.

O Papel da Hepcidina na Homeostase do Ferro

A hepcidina é um hormônio fundamental para a regulação do ferro no organismo. Ela controla a absorção intestinal do ferro e sua liberação a partir dos estoques hepáticos e dos macrófagos.

Indivíduos obesos apresentam níveis elevados de hepcidina, o que leva à redução da absorção de ferro da dieta. Esse efeito ocorre porque a hepcidina inibe a ferroportina, uma proteína responsável pela liberação do ferro das células para a corrente sanguínea. Como consequência, o ferro fica “preso” dentro dos enterócitos, hepatócitos e macrófagos, tornando-se menos biodisponível para funções essenciais do organismo.

Inflamação Crônica e Deficiência de Ferro na Obesidade

A obesidade é reconhecida como um estado de inflamação crônica de baixo grau. Esse processo inflamatório está diretamente relacionado ao aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias, como a interleucina-6 (IL-6).

A IL-6 estimula a produção de hepcidina no fígado, exacerbando a redução da absorção do ferro e promovendo seu sequestro nos estoques celulares. Dessa forma, mesmo que o organismo tenha reservas adequadas de ferro, sua utilização torna-se comprometida, resultando em uma deficiência funcional do mineral.

Deficiência de Ferro x Anemia na Obesidade

Embora a relação entre obesidade e deficiência de ferro em crianças e adolescentes esteja bem documentada, a associação entre obesidade e anemia ainda é incerta, especialmente em adultos. Isso ocorre porque a deficiência de ferro pode estar presente sem necessariamente evoluir para anemia ferropriva, uma vez que os estoques hepáticos de ferro podem estar elevados, mesmo com níveis reduzidos de ferro circulante.

Impactos da Deficiência de Ferro na Saúde de Adolescentes Obesos

A deficiência de ferro pode causar diversos problemas de saúde, incluindo:

  • Fadiga e cansaço excessivo
  • Déficits cognitivos e redução do desempenho escolar
  • Comprometimento da função imunológica
  • Alterações no humor e maior predisposição à depressão

Para adolescentes obesos, que já estão em risco aumentado para outras comorbidades, como resistência à insulina e dislipidemia, a deficiência de ferro representa mais um fator preocupante para a saúde geral.

Apesar de contra intuitiva, deficiência de ferro pode ser possível na obesidade,
Embora contraintuitiva, a deficiência de ferro pode estar presente na obesidade

Estratégias para Melhorar a Absorção de Ferro em Indivíduos Obesos

Dado que a obesidade prejudica a absorção de ferro, algumas estratégias podem ser adotadas para melhorar a biodisponibilidade do mineral, incluindo:

  • Dieta rica em ferro heme: encontrado em carnes vermelhas, frango e peixes, o ferro heme é mais facilmente absorvido pelo organismo.
  • Consumo de vitamina C: alimentos ricos em vitamina C (laranja, acerola, kiwi) ajudam a aumentar a absorção do ferro não-heme, presente em vegetais e grãos.
  • Redução do consumo de inibidores da absorção: chá, café e alimentos ricos em cálcio podem reduzir a absorção do ferro e devem ser consumidos separadamente das refeições principais.
  • Monitoramento dos níveis de ferro: adolescentes obesos devem realizar exames periódicos para avaliar os níveis de ferro e hepcidina, garantindo um acompanhamento adequado.

Conclusão

A relação entre obesidade e deficiência de ferro é um tema de crescente interesse na literatura científica. O estado inflamatório crônico associado ao excesso de peso parece ser o principal responsável pela redução da absorção de ferro em adolescentes obesos, por meio da elevação dos níveis de hepcidina.

Diante disso, estratégias nutricionais e monitoramento adequado são essenciais para prevenir as consequências da deficiência de ferro e garantir a saúde plena desse grupo populacional.

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