A dieta cetogênica tem ganhado destaque nos últimos anos, especialmente entre atletas e entusiastas do exercício físico. Essa abordagem alimentar, caracterizada pela alta ingestão de gorduras, moderado consumo de proteínas e baixa ingestão de carboidratos, provoca mudanças metabólicas significativas que afetam diretamente o desempenho físico. Este artigo explora os principais achados sobre o impacto da dieta cetogênica na prática esportiva, com base em evidências científicas.
O que é a ceto-adaptação e como ela influencia o desempenho físico?
A ceto-adaptação é o processo pelo qual o corpo passa a usar ácidos graxos e corpos cetônicos como fontes primárias de energia, em vez da glicose. Um estudo publicado em 2019 pela American Society for Nutrition revelou que essa adaptação ocorre em tecidos metabolicamente ativos e é facilitada pelo exercício aeróbico. A regulação positiva de genes e enzimas envolvidos na oxidação de ácidos graxos e na cetólise promove uma maior eficiência energética, beneficiando especialmente atletas treinados em endurance.
Além disso, a dieta cetogênica favorece um fenótipo de miofibra mais oxidativo, ou seja, fibras musculares mais eficientes na utilização de oxigênio. Isso confere uma vantagem única para atividades de longa duração, onde a resistência física é crucial.
Mecanismos de interação entre dieta cetogênica e exercíco
Pesquisas indicam que a dieta cetogênica e o exercício físico compartilham mecanismos de sinalização similares. Um deles é a via do coativador 1α do receptor γ ativado por proliferador de peroxissoma (PGC-1α), regulada pela proteína quinase ativada por AMP (AMPK). Esses mecanismos promovem adaptações fisiológicas importantes, como:
- Aumento da biogênese mitocondrial: Maior produção de mitocôndrias, que são responsáveis pela geração de energia nas células.
- Alteração na composição das miofibras musculares: Maior predominância de fibras oxidativas, otimizadas para a resistência.
- Utilização de triacilgliceróis intramusculares: Melhora na mobilização de gorduras como fonte de energia.
Essas mudanças permitem que o corpo funcione de forma mais eficiente durante exercícios prolongados, reduzindo a dependência de carboidratos e preservando o glicogênio muscular.
Quanto tempo é necessário para a ceto-adaptação?
O tempo necessário para atingir a ceto-adaptação completa varia de pessoa para pessoa e depende de fatores como genética, nível de atividade física e composição corporal. Embora não haja um consenso claro sobre a duração ideal, alguns biomarcadores podem ser usados para monitorar o progresso:
- Corpos cetônicos séricos: Indicadores diretos da cetose nutricional.
- Metabólitos de gordura e carboidratos: Avaliam a eficiência do metabolismo energético.
- Glicogênio muscular e ácido úrico sérico: Indicadores indiretos da adaptação metabólica.
O papel do FGF21 e outros fatores emergentes
O fator de crescimento de fibroblastos 21 (FGF21) desempenha um papel crucial na adaptação muscular à dieta cetogênica e ao exercício físico. Ele regula o metabolismo de glicose e lipídios através da via AMPK-SIRT1-PGC-1α, facilitando a transição energética para o uso de gorduras como principal fonte de energia.
Além do FGF21, outros elementos emergem como importantes reguladores da ceto-adaptação:
- FGF15/19 e FGF1: Hormônios que influenciam o metabolismo energético.
- Adiponectina e IL-6: Reguladores inflamatórios que afetam a resposta metabólica.
- Microbioma intestinal: Modifica a eficiência da absorção de nutrientes e a produção de metabólitos.
Limitações e necessidade de mais estudo
Embora os benefícios da dieta cetogênica para a resistência física sejam promissores, ainda há muitas lacunas a serem preenchidas. A falta de padronização na quantificação da ceto-adaptação dificulta a comparação entre estudos. Além disso, os impactos a longo prazo da cetose nutricional no desempenho físico e na saúde geral precisam ser mais bem investigados.
Conclusão
A dieta cetogênica pode oferecer vantagens significativas para atletas de endurance, melhorando a eficiência metabólica e promovendo adaptações musculares favoráveis. No entanto, a variabilidade individual e as lacunas na pesquisa indicam que essa abordagem deve ser adotada com cautela, preferencialmente sob orientação de profissionais de saúde e nutrição.
Explorar mais profundamente os mecanismos de ceto-adaptação e os fatores reguladores pode abrir caminhos para estratégias nutricionais personalizadas que otimizem o desempenho físico.
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