O risco de desenvolver doença cardiovascular (DCV) em mulheres é notavelmente menor do que em homens até aproximadamente os 50 anos de idade. No entanto, um fenômeno preocupante emerge após a menopausa, onde esse risco cardiovascular aumenta drasticamente. Uma série de estudos tem levantado a hipótese de que a diminuição dos níveis de estrogênio e o aumento dos níveis de andrógenos endógenos, decorrentes da transição para a menopausa, podem ser responsáveis por esse aumento do risco cardiovascular em mulheres pós-menopausa.
Hormônios Sexuais e Mecanismos Cardiovasculares
Os estrogênios, conhecidos por seu papel crucial no ciclo reprodutivo feminino, desempenham várias funções benéficas no sistema cardiovascular. Por exemplo, eles podem promover a vasodilatação através do aumento das concentrações plasmáticas do óxido nítrico, um poderoso vasodilatador derivado do endotélio vascular. Além disso, os estrogênios também demonstraram inibir o sistema renina-angiotensina, reduzindo assim a transcrição da enzima conversora de angiotensina e ajudando a modular a pressão arterial.
Por outro lado, os andrógenos, embora predominantes nos homens, também desempenham um papel significativo no corpo feminino. Estudos populacionais têm sugerido que os andrógenos estão associados ao aumento do acúmulo de gordura visceral, níveis lipídicos elevados e aumento dos fatores de risco cardiometabólicos, incluindo pressão arterial, índice de massa corporal, proteína C reativa (PCR) e resistência à insulina em mulheres.
Fatores de Risco Cardiovascular
Além dos mecanismos hormonais, vários fatores de risco cardiovascular também desempenham um papel importante no aumento do risco após a menopausa. Por exemplo, uma história de menopausa precoce e uma menor duração do período reprodutivo, desde a menarca até a menopausa, estão associadas a um maior risco de desfechos cardiovasculares em mulheres. Esses fatores podem ser influenciados por diversos aspectos, como estilo de vida, genética e saúde geral.
Interação Hormonal e Fatores de Risco
É importante ressaltar que os efeitos dos hormônios sexuais na saúde cardiovascular das mulheres são complexos e multifacetados. Por exemplo, a terapia de reposição hormonal (TRH) já foi uma prática comum para aliviar os sintomas da menopausa e potencialmente reduzir o risco cardiovascular em mulheres pós-menopausa. No entanto, evidências conflitantes sobre os benefícios e riscos da TRH levaram a uma reavaliação de seu uso generalizado.
Além disso, outros fatores, como dieta, exercício físico, tabagismo e estresse, podem interagir com os efeitos dos hormônios sexuais na saúde cardiovascular. Por exemplo, uma dieta rica em gorduras saturadas e açúcares refinados, combinada com um estilo de vida sedentário, pode exacerbar os efeitos negativos da diminuição dos níveis de estrogênio na saúde cardiovascular das mulheres pós-menopausa.
Conclusão
Em resumo, o aumento do risco cardiovascular em mulheres após a menopausa é um fenômeno complexo que envolve uma interação entre fatores hormonais, genéticos, ambientais e de estilo de vida. Embora os estrogênios desempenhem um papel protetor no sistema cardiovascular feminino, a diminuição de seus níveis após a menopausa pode contribuir para o aumento do risco cardiovascular. Por outro lado, os andrógenos e outros fatores de risco cardiometabólicos também desempenham um papel significativo nesse aumento do risco. Portanto, abordagens preventivas e terapêuticas personalizadas, que levem em consideração esses diversos fatores, são essenciais para reduzir o risco cardiovascular em mulheres pós-menopausa e promover uma vida saudável e ativa.
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