Os padrões alimentares desempenham um papel crítico na saúde de crianças e adolescentes, influenciando diretamente o risco de doenças inflamatórias e não transmissíveis (DNTs). Uma revisão abrangente publicada em 2023 analisou 199 estudos para explorar como a dieta afeta o processo inflamatório e sua relação com diversas condições de saúde na faixa etária pediátrica. Este artigo destaca os principais achados dessa pesquisa e seus impactos práticos.
Artigo: Dietary Inflammatory Potential in Pediatric Diseases: A Narrative Review
O Papel dos Alimentos Ultraprocessados na Inflamação
A revisão evidenciou que o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados está diretamente associado ao aumento do processo inflamatório, contribuindo para o desenvolvimento de DNTs. Entre as condições relacionadas ao consumo desses alimentos, destacam-se:
- Síndrome metabólica e obesidade: Padrões alimentares ricos em açúcares, gorduras saturadas e aditivos químicos contribuem para o acúmulo de gordura visceral e resistência à insulina.
- Doenças inflamatórias intestinais (DII): Dietas inadequadas podem desencadear ou agravar condições como colite ulcerativa e doença de Crohn.
- Alergias e doenças autoimunes: Há uma associação entre a alimentação ultraprocessada e a maior prevalência de alergias alimentares e doenças como esclerose múltipla.
- Tumores malignos: A inflamação crônica induzida por uma dieta inadequada pode ser um fator contribuinte para o surgimento de câncer em idades mais precoces.
A Microbiota Intestinal: Um Fator Decisivo
Um dos destaques do estudo é a relação entre a dieta, a microbiota intestinal e a inflamação. Os autores enfatizaram que alterações na microbiota desempenham um papel fundamental como gatilho para diversas doenças inflamatórias e metabólicas. A dieta inadequada pode levar ao desequilíbrio do microbioma intestinal, conhecido como disbiose, que é caracterizada por:
- Redução da diversidade microbiana: Padrões alimentares pouco saudáveis diminuem a variedade de bactérias benéficas no intestino.
- Aumento de bactérias pró-inflamatórias: Dietas ricas em gorduras saturadas e açúcares simples favorecem o crescimento de microorganismos associados à inflamação.
Frutas, Vegetais e o Efeito Protetor Contra Doenças Inflamatórias
O estudo revelou que o consumo regular de frutas e vegetais tem um papel protetor significativo contra doenças inflamatórias, como colite ulcerativa e doença de Crohn. Esses alimentos são ricos em fibras, antioxidantes e compostos anti-inflamatórios que ajudam a regular a microbiota intestinal e reduzir marcadores inflamatórios no organismo.
Por outro lado, dietas ricas em carnes processadas ou consumo excessivo de glúten por indivíduos sensíveis mostraram-se prejudiciais, agravando os sintomas dessas condições.
O Impacto dos Laticínios Fermentados e Leite Cru
Os laticínios também receberam atenção especial no estudo. Produtos fermentados, como iogurtes e queijos maturados, demonstraram benefícios significativos para a saúde intestinal. Esses alimentos são ricos em probióticos, que ajudam a equilibrar a microbiota e reduzir a inflamação.
No entanto, o consumo de leite cru, que não passa por processos de pasteurização, foi associado a um maior potencial inflamatório em alguns estudos analisados. Isso reforça a importância de priorizar formas seguras e processadas de laticínios para evitar efeitos adversos.
Repercussões Práticas: Como Promover uma Alimentação Saudável
Os achados da revisão publicada na Nature reforçam a importância de estratégias práticas para promover padrões alimentares saudáveis na infância e adolescência. Algumas recomendações incluem:
- Priorizar alimentos in natura e minimamente processados: Frutas, vegetais, grãos integrais e proteínas magras devem ser a base da dieta.
- Limitar o consumo de ultraprocessados: Reduzir a ingestão de alimentos ricos em aditivos químicos, como refrigerantes, salgadinhos e embutidos.
- Incentivar o consumo de laticínios fermentados: Produtos como iogurtes naturais são fontes valiosas de probióticos.
- Educar famílias sobre escolhas alimentares: A conscientização sobre os riscos de uma dieta inadequada é essencial para melhorar a saúde pediátrica.
Conclusão: Alimentação Saudável Como Estratégia Antiinflamatória
Os padrões alimentares têm um impacto profundo na saúde inflamatória e geral de crianças e adolescentes. A revisão publicada pela Nutrients em 2023 fornece evidências robustas de que escolhas alimentares saudáveis, como o aumento do consumo de frutas, vegetais e laticínios fermentados, e a redução de alimentos ultraprocessados, podem prevenir e mitigar doenças inflamatórias e metabólicas.
Profissionais de saúde têm um papel central em orientar famílias e pacientes sobre a importância da dieta na saúde pediátrica, promovendo intervenções que priorizem a prevenção e o bem-estar a longo prazo. Ao adotar essas práticas, é possível transformar padrões alimentares em poderosas ferramentas para reduzir o impacto das doenças inflamatórias em idades precoces.
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