A deficiência de ferro é uma condição comum e frequentemente subdiagnosticada, que afeta especialmente mulheres em idade reprodutiva. Quando associada à menstruação intensa ou prolongada, condição conhecida como hipermenorreia, essa deficiência pode evoluir para anemia ferropriva, impactando negativamente a saúde, a produtividade e a qualidade de vida.
Este artigo analisa como a perda menstrual excessiva pode levar à deficiência de ferro, os principais sintomas, grupos de risco e as abordagens terapêuticas mais eficazes segundo a literatura médica atual.
O Que é Deficiência de Ferro e Qual Sua Importância?
O ferro é um micronutriente essencial para o organismo, sendo componente fundamental da hemoglobina, proteína presente nos glóbulos vermelhos que transporta oxigênio para os tecidos. Além disso, o ferro participa de processos como a respiração celular, síntese de DNA e metabolismo energético.
Quando os níveis de ferro caem, o organismo passa a utilizar seus estoques, principalmente armazenados no fígado, baço e medula óssea. Se a reposição de ferro não ocorrer de forma adequada, instala-se a deficiência de ferro, que pode evoluir para anemia por deficiência de ferro (ADF).
Menstruação Excessiva como Causa de Deficiência de Ferro
A menstruação intensa e prolongada é uma das principais causas não patológicas de perda crônica de sangue em mulheres. Estima-se que mais de 30% das mulheres em idade fértil experimentem perdas menstruais consideradas excessivas, especialmente adolescentes e aquelas com histórico de distúrbios menstruais.
Características que sugerem risco elevado de deficiência de ferro associada à menstruação:
- Menstruação com duração superior a 7 dias
- Uso de mais de 6 absorventes por dia durante o período
- Presença de coágulos menstruais
- Cansaço excessivo durante ou após o ciclo
- Dieta pobre em ferro (comum em adolescentes e mulheres veganas)
A perda recorrente de sangue sem reposição adequada dos estoques de ferro cria um desequilíbrio que favorece o surgimento da anemia ferropriva, condição que representa mais de 60% dos casos de anemia no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Sintomas da Anemia por Deficiência de Ferro em Mulheres
Os sinais clínicos da deficiência de ferro podem ser sutis ou inespecíficos, especialmente nos estágios iniciais. Em casos mais avançados, os sintomas impactam diretamente o bem-estar físico e mental.
Sintomas mais comuns:
- Fadiga crônica e fraqueza muscular
- Palidez cutânea e das mucosas
- Falta de ar mesmo em repouso
- Queda de cabelo e unhas quebradiças
- Dores de cabeça frequentes
- Intolerância ao frio
- Síndrome das pernas inquietas
- Dificuldades cognitivas (atenção e memória)
- Redução da produtividade no trabalho ou estudo
Esses sintomas, muitas vezes, são erroneamente atribuídos a estresse, sedentarismo ou desequilíbrio hormonal, retardando o diagnóstico e o tratamento adequados.
Grupos de Risco para Deficiência de Ferro por Perda Menstrual
Diversos fatores podem aumentar o risco de deficiência de ferro em mulheres que menstruam. Abaixo estão os principais:
- Adolescentes: fase de crescimento associada a menstruações irregulares e dieta frequentemente inadequada
- Mulheres veganas e vegetarianas: menor ingestão de ferro heme (de origem animal), que tem maior biodisponibilidade
- Atletas femininas: alta demanda metabólica e perdas adicionais por suor e microtraumas
- Mulheres com distúrbios ginecológicos: como miomas, adenomiose e distúrbios hormonais que intensificam o fluxo menstrual
A identificação desses fatores é essencial para orientar o rastreio da deficiência de ferro e prevenir complicações metabólicas e hematológicas.
Diagnóstico: Quando Investigar a Deficiência de Ferro?
O diagnóstico da deficiência de ferro é clínico-laboratorial e deve ser solicitado sempre que houver sintomas sugestivos ou presença de fatores de risco.
Exames laboratoriais indicados:
- Hemograma completo: avalia hemoglobina, hematócrito e índices eritrocitários
- Ferritina sérica: principal marcador de reserva de ferro
- Saturação de transferrina e ferro sérico: úteis em casos de inflamação ou ferritina normal
- Receptores de transferrina solúveis (sTfR): úteis para diferenciar anemia por deficiência de ferro de anemia da inflamação
A ferritina sérica baixa é o marcador mais sensível da deficiência de ferro, mesmo antes da instalação da anemia.
Tratamento da Deficiência de Ferro em Mulheres que Menstruam
O tratamento depende da gravidade do quadro e da presença ou não de anemia. Em casos leves, mudanças dietéticas podem ser suficientes. Em quadros moderados a graves, é indicada a suplementação oral de ferro, sendo o sulfato ferroso o mais utilizado.
Recomendações terapêuticas:
- Ferro oral: geralmente 100 a 200 mg/dia de ferro elementar, preferencialmente em jejum, por no mínimo 3 meses
- Ferro intravenoso: indicado em casos de intolerância ao ferro oral, má absorção intestinal ou anemia grave
- Correção de causas ginecológicas: abordagem conjunta com ginecologista para controle do fluxo menstrual
- Revisão alimentar: aumento da ingestão de fontes de ferro (carnes vermelhas, vegetais verde-escuros, leguminosas) e alimentos que aumentam a absorção (vitamina C)
Benefícios da Correção da Deficiência de Ferro na Qualidade de Vida
Estudos mostram que o tratamento da deficiência de ferro, mesmo na ausência de anemia evidente, melhora significativamente a qualidade de vida das mulheres.
Benefícios observados com o tratamento:
- Redução da fadiga crônica
- Melhora da performance física
- Aumento da concentração e memória
- Diminuição de sintomas depressivos
- Recuperação da produtividade no trabalho
- Regulação da menstruação em alguns casos
A detecção precoce e o tratamento adequado promovem um impacto direto no bem-estar e na saúde global da mulher em idade fértil.
Conclusão: A Menstruação Intensa Exige Atenção Médica
A menstruação excessiva não deve ser considerada normal nem ignorada. Ela pode ser um sinal de alerta para deficiência de ferro e risco de anemia, especialmente quando associada a sintomas como cansaço, queda de cabelo e dificuldade de concentração.
Médicos clínicos, ginecologistas e nutrólogos devem estar atentos a esse diagnóstico, promovendo rastreamento precoce, intervenção dietética e terapêutica adequada, visando preservar a saúde física, mental e emocional das pacientes.
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