A Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) tem se tornado uma preocupação crescente nos consultórios médicos e nas discussões acadêmicas de saúde pública. Com alta prevalência mundial, a condição representa não apenas um problema hepático isolado, mas também um marcador de risco importante para doenças sistêmicas, como diabetes tipo 2, síndrome metabólica, cirrose hepática e até carcinoma hepatocelular.
Artigo: Non-alcoholic fatty liver disease – PubMed
O que é a Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica?
A DHGNA é caracterizada pelo acúmulo de gordura no fígado, sem associação ao consumo excessivo de álcool. A doença se manifesta em um espectro que vai desde a esteatose simples até a esteato-hepatite não alcoólica (NASH), podendo progredir para fibrose, cirrose e carcinoma hepatocelular.
Dados recentes indicam que a DHGNA pode afetar cerca de 25% da população mundial, sendo considerada a principal causa de doença hepática crônica nos países ocidentais.
Supernutrição: o principal fator causal da DHGNA
Uma revisão publicada no The Lancet em 2021 aponta a supernutrição como a principal responsável pelos achados clínico-patológicos da DHGNA. A ingestão excessiva de calorias, principalmente de carboidratos refinados e gorduras saturadas, leva à expansão dos depósitos de gordura corporal, incluindo o perigoso acúmulo de gordura ectópica, como no fígado.
Esse excesso de lipídios no fígado desencadeia uma cascata de processos inflamatórios e disfunção mitocondrial, que contribuem para a progressão da esteatose hepática para estágios mais graves.
Fatores de risco que agravam a progressão da doença
O agravamento da DHGNA está fortemente associado à presença de comorbidades metabólicas, que aceleram a evolução da fibrose hepática e aumentam a mortalidade.
Entre os principais fatores de risco para a progressão da DHGNA estão:
- Diabetes Mellitus tipo 2: fator de risco independente para fibrose avançada.
- Obesidade: especialmente a obesidade visceral, intensifica a inflamação hepática.
- Dislipidemia: baixos níveis de HDL e altos níveis de triglicerídeos contribuem para o acúmulo de gordura hepática.
- Hipertensão arterial: agrava a disfunção endotelial e favorece a progressão para cirrose.
Esses fatores, em conjunto, compõem a síndrome metabólica, que está fortemente associada à DHGNA. Por isso, o manejo eficaz dessas condições é essencial para prevenir complicações hepáticas.
A importância da triagem e prevenção da DHGNA em pacientes de risco
A triagem precoce da DHGNA em pacientes com fatores de risco é uma estratégia fundamental na prevenção de desfechos graves. A revisão do Lancet reforça a necessidade de investigar a presença de doença hepática gordurosa em pacientes hipertensos, diabéticos ou com obesidade abdominal.
Além disso, a abordagem deve ser populacional. Campanhas de conscientização e intervenções em saúde pública para controle da obesidade, diabetes e dislipidemias são ferramentas indispensáveis no combate à DHGNA.
Estratégias de tratamento: foco na mudança de estilo de vida e novas terapias farmacológicas
O tratamento da DHGNA deve começar com mudanças no estilo de vida, que continuam sendo a abordagem mais eficaz. A perda de peso — idealmente entre 7% e 10% do peso corporal — está associada à melhora significativa da esteatose e até regressão da fibrose em muitos casos.
As principais recomendações incluem:
- Alimentação balanceada, com redução do consumo de açúcares simples e gorduras saturadas.
- Atividade física regular, que melhora a sensibilidade à insulina e reduz a gordura hepática.
- Controle rigoroso de glicemia, pressão arterial e lipídios.
Inibidores de SGLT-2 e agonistas de GLP-1: novas perspectivas terapêuticas
Nos últimos anos, estudos têm demonstrado que inibidores de SGLT-2 e agonistas de GLP-1, inicialmente desenvolvidos para o tratamento do diabetes tipo 2, também apresentam efeitos benéficos na redução da esteatose hepática e da necroinflamação.
Essas medicações, ao promoverem perda de peso, melhora da sensibilidade à insulina e redução da inflamação, se mostram como ferramentas valiosas no manejo farmacológico da DHGNA, especialmente em pacientes com comorbidades metabólicas.
Considerações finais: DHGNA como marcador de risco sistêmico
Mais do que uma condição hepática, a DHGNA deve ser entendida como um sinal de alerta sistêmico. Sua presença indica a existência de um terreno metabólico comprometido, com risco elevado de doenças cardiovasculares, renais e neoplásicas.
Portanto, o diagnóstico de DHGNA deve ser o ponto de partida para uma abordagem integral do paciente, com foco na prevenção, educação em saúde e controle rigoroso dos fatores de risco.
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