A relação entre alimentação e saúde da pele tem despertado crescente interesse na comunidade científica. Entre os alimentos mais populares, o chocolate, frequentemente associado ao prazer e à culpa tem se mostrado um potencial aliado na fotoproteção cutânea, graças à presença de compostos bioativos como os flavonóides. Mas afinal, chocolate faz bem para a pele?
Neste texto, abordamos como os flavonóides do chocolate podem atuar na proteção contra os danos provocados pela radiação ultravioleta (UV), analisamos as evidências científicas disponíveis e discutimos as implicações clínicas desse achado.
Artigo: Chocolate flavanols and skin photoprotection: a parallel, double-blind, randomized clinical trial – PMC
O Que a Radiação Ultravioleta Causa na Pele?
A radiação ultravioleta (UV) emitida pelo sol é um fator ambiental conhecido por causar diversos danos à pele humana. A exposição excessiva aos raios UV pode gerar:
- Queimaduras solares, com vermelhidão, dor e até bolhas;
- Fotoenvelhecimento, caracterizado por rugas, flacidez e manchas escuras;
- Danos ao DNA celular, que aumentam o risco de câncer de pele, incluindo o carcinoma basocelular, o espinocelular e o melanoma.
Diante dessas consequências, estratégias de proteção cutânea são essenciais, e novas abordagens têm sido investigadas, como o papel de nutrientes e compostos bioativos presentes na dieta, entre eles, os flavonóides do chocolate.
Flavonóides do Chocolate: Antioxidantes Naturais com Potencial Dermatológico
Os flavonóides são compostos polifenólicos com reconhecida ação antioxidante e anti-inflamatória, encontrados em alimentos como frutas vermelhas, chá verde e, em especial, no cacau. O chocolate amargo, por ser rico em cacau, concentra uma boa quantidade desses compostos.
Estudos experimentais e clínicos sugerem que os flavonóides podem atuar na neutralização de radicais livres, moléculas instáveis geradas durante a exposição solar que provocam estresse oxidativo e danos celulares.
Além disso, os flavonóides também parecem:
- Reduzir processos inflamatórios induzidos pelos raios UV;
- Modular a resposta imune cutânea;
- Estimular mecanismos de reparação celular.
Como os Flavonóides do Chocolate Protegem a Pele?
Um dos mecanismos propostos para os efeitos benéficos do chocolate sobre a pele é a melhora da microcirculação cutânea. A ingestão regular de flavonóides tem sido associada ao aumento da densidade capilar e à melhora do fluxo sanguíneo nos tecidos, favorecendo:
- A entrega de oxigênio e nutrientes às células da pele;
- A eliminação de toxinas e radicais livres;
- A regeneração e manutenção da integridade da barreira cutânea.
Esses efeitos contribuem para uma maior resistência da pele às agressões solares e melhor recuperação após exposições agudas à radiação UV.
Evidências Científicas: O Que Mostram os Estudos?
Um estudo publicado na PubMed Central intitulado “Chocolate flavanols and skin photoprotection: a parallel, double-blind, randomized clinical trial” investigou os efeitos da ingestão diária de chocolate rico em flavonóides na resistência da pele à radiação UV.
Os principais achados incluem:
- Aumento do tempo necessário para ocorrer eritema (vermelhidão) após exposição UV;
- Melhora na densidade e hidratação da pele;
- Redução de biomarcadores inflamatórios.
No entanto, é importante destacar que:
- Os estudos disponíveis ainda envolvem pequenas amostras populacionais;
- A variação na concentração de flavonóides entre diferentes tipos de chocolate pode impactar os resultados;
- São necessários ensaios clínicos maiores e mais robustos para validação dos efeitos observados.
Chocolate Pode Substituir o Protetor Solar?
Apesar dos dados promissores, o consumo de chocolate mesmo rico em flavonóides não substitui as medidas tradicionais de fotoproteção, como:
- Uso de filtros solares de amplo espectro (FPS 30 ou superior);
- Uso de chapéus, óculos e roupas adequadas;
- Evitar a exposição solar nos horários de maior intensidade (10h às 16h).
O chocolate pode ser considerado um coadjuvante nutricional na saúde da pele, mas não um substituto para métodos comprovados de proteção solar.
Tipos de Chocolate e Teor de Flavonóides
Nem todo chocolate traz benefícios dermatológicos. Os flavonóides estão presentes principalmente no cacau. Portanto:
- Chocolate amargo (acima de 70% de cacau) é o mais indicado por seu alto teor de flavonóides;
- Chocolates ao leite ou brancos contêm pouco ou nenhum flavonóide relevante;
- Produtos com adição de açúcar, gordura e leite em excesso podem anular os efeitos benéficos dos flavonóides.
Para obter possíveis benefícios cutâneos, a escolha deve recair sobre chocolate com alto teor de cacau, preferencialmente sem aditivos prejudiciais à saúde.
Conclusão: Chocolate Rico em Flavonóides Pode Ser Aliado da Saúde da Pele
A relação entre chocolate e proteção da pele contra radiação UV é um campo de pesquisa emergente, com resultados iniciais encorajadores. Os flavonóides do cacau demonstram ação antioxidante, anti-inflamatória e vasodilatadora, sugerindo um papel complementar na fotoproteção cutânea.
Contudo, é essencial reforçar que:
- As evidências ainda são limitadas e inconclusivas;
- O consumo deve ser moderado e preferencialmente de chocolate com alta concentração de cacau;
- A fotoproteção convencional permanece indispensável para a prevenção do câncer de pele e do fotoenvelhecimento.
Em outras palavras, um quadradinho de chocolate amargo pode sim trazer benefícios para a pele desde que aliado a uma alimentação equilibrada, hidratação adequada e bons hábitos de exposição solar.
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