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Cardiologia e Obesidade: o Papel da Cardionutrologia

A obesidade é uma doença crônica complexa, multifatorial, e associada a uma série de complicações, entre elas, doenças cardiovasculares. Compreendê-la em sua diversidade clínica e fisiopatológica é essencial para o manejo eficaz dos pacientes, especialmente no contexto da prática cardiológica.

Artigo: Management of Obesity in Cardiovascular Practice: JACC Focus Seminar – PubMed

Por que a obesidade deve ser compreendida como doença crônica?

Por muito tempo, a obesidade foi erroneamente vista como consequência exclusiva de maus hábitos alimentares ou sedentarismo. No entanto, hoje se reconhece que essa condição envolve fatores genéticos, hormonais, ambientais e comportamentais, além de apresentar manifestações heterogêneas entre os pacientes.

Essa visão é essencial para que os médicos, principalmente os cardiologistas, possam adaptar o tratamento às particularidades de cada indivíduo. Afinal, diferentes subgrupos de pacientes com obesidade podem demandar abordagens distintas para alcançar resultados mais efetivos.

A obesidade como fator de risco cardiovascular

A associação entre obesidade e doenças cardiovasculares já está bem documentada. A presença de gordura corporal em excesso, especialmente a gordura visceral (localizada ao redor dos órgãos abdominais), aumenta o risco de condições como:

  • Hipertensão arterial
  • Dislipidemias
  • Doença arterial coronariana
  • Insuficiência cardíaca
  • Diabetes tipo 2, entre outras.

Contudo, o risco cardiovascular não depende apenas do índice de massa corporal (IMC). A distribuição da gordura corporal tem papel importante no prognóstico do paciente.

O que dizem os estudos sobre obesidade e cardiologia?

Um artigo de revisão publicado no Journal of the American College of Cardiology (JACC), intitulado “Management of Obesity in Cardiovascular Practice: JACC Focus Seminar”, reforça a importância de uma abordagem personalizada da obesidade no contexto cardiológico.

Os autores destacam a necessidade de estratificar os pacientes com obesidade em subgrupos clínicos. Por exemplo:

  • Pacientes com sobrepeso ou obesidade leve, com ou sem aumento da gordura visceral.
  • Pacientes com obesidade grave, com diferentes graus de acometimento metabólico e presença ou não de comorbidades associadas.

Essa diferenciação é importante, pois dois pacientes com o mesmo IMC podem ter risco cardiovascular muito distintos. Um dos pontos centrais do artigo é que a heterogeneidade da obesidade impacta diretamente na forma como as doenças cardiovasculares se desenvolvem em cada indivíduo.

Redução da circunferência abdominal: impacto além do peso

Um dado particularmente interessante do artigo é a constatação de que a redução da circunferência abdominal, reflexo direto da redução da gordura visceral, já é suficiente para diminuir o risco cardiovascular, mesmo sem uma perda significativa de peso corporal total.

Esse achado reforça a importância de intervenções que promovam melhora do estilo de vida, como:

  • Reeducação alimentar
  • Aumento da atividade física
  • Melhora da qualidade do sono
  • Redução do estresse

Ou seja, o foco terapêutico não deve estar apenas na balança, mas na melhora dos parâmetros metabólicos e cardiovasculares.

Cardiologia e Obesiddade: uma relação direta
Cardiologia e Obesiddade: uma relação direta

O mito do “obeso metabolicamente saudável”

O artigo também problematiza o uso da expressão “obeso metabolicamente saudável”. Embora existam indivíduos com obesidade que não apresentam, em um primeiro momento, alterações metabólicas evidentes (como resistência à insulina ou dislipidemia), o termo pode levar à falsa percepção de ausência de risco.

Na prática clínica, isso pode resultar em subtratamento, ou mesmo na falta de orientação adequada ao paciente. O texto reforça que, mesmo nesses casos, a obesidade deve ser tratada como condição de risco, pois a progressão das alterações metabólicas pode ocorrer com o tempo.

O papel do cardiologista no manejo da obesidade

O cardiologista tem um papel fundamental no reconhecimento precoce e no manejo da obesidade como fator de risco cardiovascular. Para isso, é importante:

  • Identificar subtipos clínicos de pacientes com obesidade.
  • Avaliar parâmetros além do IMC, como circunferência abdominal e composição corporal.
  • Estimular mudanças de estilo de vida baseadas em evidências.
  • Trabalhar em equipes multiprofissionais, com nutricionistas, endocrinologistas e psicólogos.

O objetivo é promover melhora da saúde global do paciente, reduzindo o risco de eventos cardiovasculares futuros.

Conclusão: Cardiologia e Obesidade

A obesidade não é uma condição única, ela se apresenta de formas variadas e com riscos diversos. Ao reconhecer essa heterogeneidade, especialmente no contexto da cardiologia, o médico pode individualizar o tratamento e obter melhores desfechos clínicos.

O estudo do JACC mostra que mais do que perder peso, é necessário melhorar a saúde metabólica e cardiovascular, com foco na redução da gordura visceral e no controle das comorbidades. E esse é um campo onde o cardiologista pode e deve atuar com protagonismo.

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