A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Além dos tratamentos farmacológicos, o exercício físico tem emergido como uma intervenção promissora para melhorar a qualidade de vida desses pacientes. Nos últimos anos, numerosos estudos têm investigado como o treinamento físico pode beneficiar pessoas com Parkinson. Este artigo explora os mecanismos pelos quais o exercício físico exerce efeitos neurorestauradores e neuroprotetores, destacando os tipos de exercícios mais eficazes.
Artigo: The benefits and mechanisms of exercise training for Parkinson’s disease – ScienceDirect
Mecanismos Neurorestauradores e Neuroprotetores do Exercício
Regulação de Fatores Neurotróficos
Uma das maneiras pelas quais o exercício aeróbico beneficia pacientes com Parkinson é através da regulação de fatores neurotróficos. Esses fatores são proteínas que promovem a sobrevivência, desenvolvimento e função dos neurônios. Estudos sugerem que o exercício físico pode aumentar a produção de fatores neurotróficos como o BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro), que suporta a formação de sinapses e a angiogênese – o crescimento de novos vasos sanguíneos no cérebro. Este processo é crucial para a manutenção da saúde cerebral e pode ajudar a retardar a progressão dos sintomas da doença de Parkinson.
Inibição do Estresse Oxidativo
O estresse oxidativo é um dos principais fatores que contribuem para a degeneração neuronal na doença de Parkinson. O exercício aeróbico tem demonstrado reduzir o estresse oxidativo, possivelmente ao aumentar a produção de antioxidantes naturais no corpo. Esses antioxidantes neutralizam os radicais livres, moléculas instáveis que podem danificar as células nervosas. Ao inibir o estresse oxidativo, o exercício pode proteger os neurônios dopaminérgicos, que são particularmente vulneráveis na doença de Parkinson.
Melhoria da Função Mitocondrial
As mitocôndrias são as “usinas de energia” das células, e sua disfunção está implicada na patogênese da doença de Parkinson. O exercício físico regular pode melhorar a função mitocondrial, aumentando a produção de ATP (adenosina trifosfato), que é a principal fonte de energia celular. Estudos indicam que o exercício pode estimular a biogênese mitocondrial, o processo pelo qual novas mitocôndrias são formadas nas células, melhorando assim a saúde e a função dos neurônios.
O Papel da Neuroplasticidade no Exercício para Parkinson
Aumento da Conectividade Tálamo-Cortical
A neuroplasticidade refere-se à capacidade do cérebro de se reorganizar formando novas conexões neuronais. Pesquisas com ressonância magnética funcional mostram que exercícios de alta intensidade, como pedalar em uma bicicleta ergométrica, podem aumentar a conectividade entre o tálamo e o córtex em pacientes com Parkinson. Esta conectividade melhorada pode contribuir para a coordenação motora e o controle dos movimentos, ajudando a aliviar alguns dos sintomas motores da doença.
Potencial de Ligação do Receptor de Dopamina D2
Outro achado importante é que o treinamento em esteira por um período de oito semanas pode aumentar o potencial de ligação do receptor de dopamina D2. Os receptores de dopamina são críticos para a modulação do movimento, e sua diminuição é um dos principais problemas na doença de Parkinson. O aumento da neuroplasticidade na via dopaminérgica sugere que o exercício físico pode ter um efeito terapêutico direto, ajudando a restaurar a função dopaminérgica e melhorar os sintomas motores.
Efeitos Terapêuticos dos Diferentes Tipos de Exercício
Exercício Aeróbico
O exercício aeróbico, como caminhar, correr ou andar de bicicleta, é a forma de exercício mais estudada no contexto da doença de Parkinson. Este tipo de exercício tem mostrado efeitos positivos não apenas na motricidade, mas também na qualidade de vida, cognição e emoção dos pacientes. A melhoria na função motora pode ser atribuída ao aumento da plasticidade sináptica e ao suporte dos fatores neurotróficos mencionados anteriormente.
Terapias de Exercício para Distúrbios Motores
Além do exercício aeróbico, outros tipos de terapias de exercício também têm demonstrado benefícios para pacientes com Parkinson. Exercícios de resistência, alongamento e equilíbrio são úteis para melhorar a força muscular, a flexibilidade e a estabilidade postural. Essas melhorias são essenciais para reduzir o risco de quedas e melhorar a independência funcional dos pacientes.
Impacto nos Distúrbios Não Motores
Pacientes com Parkinson frequentemente sofrem de distúrbios não motores, como depressão, ansiedade e problemas cognitivos. O exercício físico pode ter um impacto positivo nessas áreas, promovendo o bem-estar mental e emocional. Estudos sugerem que o exercício regular pode melhorar a função cognitiva, possivelmente através da neurogênese no hipocampo, uma área do cérebro associada à memória e ao aprendizado.
Conclusão: Benefícios do Exercício Físico na Doença de Parkinson
O exercício físico oferece uma gama de benefícios terapêuticos para pacientes com doença de Parkinson, atuando através de mecanismos neurorestauradores e neuroprotetores. A regulação de fatores neurotróficos, a inibição do estresse oxidativo, a melhoria da função mitocondrial e a promoção da neuroplasticidade são algumas das formas pelas quais o exercício pode ajudar a mitigar os sintomas da doença. Embora o exercício aeróbico seja o mais estudado, outras formas de exercício também têm mostrado efeitos benéficos, tanto em distúrbios motores quanto não motores. No entanto, é importante que os pacientes com Parkinson consultem seus médicos antes de iniciar qualquer programa de exercícios, para garantir que as atividades sejam seguras e adequadas às suas condições individuais. Ensaios clínicos futuros serão essenciais para continuar explorando e validando os benefícios do exercício físico nessa população.
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