A relação entre alimentação e acne tem ganhado cada vez mais atenção na literatura científica. Estudos recentes mostram que certos alimentos podem estimular vias metabólicas envolvidas na produção de sebo e na inflamação da pele, contribuindo para o aparecimento e agravamento da acne.
Neste artigo, vamos entender quais alimentos mais favorecem o surgimento da acne, os mecanismos bioquímicos envolvidos — como a atuação do IGF-1 e da via mTORC1 — e o papel de uma alimentação equilibrada na prevenção e no tratamento dessa condição.
Artigo: Linking diet to acne metabolomics, inflammation, and comedogenesis: an update – PMC
1. Quais Alimentos Estimulam a Acne? Entenda as Evidências Científicas
Diversas pesquisas demonstram que três principais grupos de alimentos estão associados ao agravamento da acne:
- Carboidratos de alto índice glicêmico
- Leite e derivados lácteos
- Gorduras saturadas e trans, especialmente com baixa ingestão de ácidos graxos ômega-3 (PUFAs)
Esses alimentos podem desencadear processos hormonais e inflamatórios que favorecem a produção de sebo pelas glândulas sebáceas e o acúmulo de queratina nos folículos pilosos, principais gatilhos da acne.
2. Carboidratos Hiperglicêmicos e Acne: Uma Ligação Direta
Alimentos com alto índice glicêmico, como pães brancos, massas refinadas, doces e refrigerantes, causam picos de insulina no sangue. Essa elevação da insulina estimula a produção do IGF-1 (fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1), um dos principais mediadores metabólicos relacionados à acne.
A insulina e o IGF-1 promovem a lipogênese nas glândulas sebáceas, estimulando a produção de sebo, o que favorece o entupimento dos poros e o crescimento de bactérias como a Cutibacterium acnes, exacerbando a inflamação cutânea.
3. Leite e Derivados: Como os Laticínios Influenciam na Formação de Acne
O consumo de leite e produtos lácteos também está ligado ao aumento dos níveis de IGF-1, além de fornecer aminoácidos específicos que ativam a via mTORC1 (mammalian target of rapamycin complex 1), envolvida no crescimento celular e na produção sebácea.
Além disso, mesmo o leite desnatado, por conter maior concentração de proteínas do soro (como a leucina), pode agravar a acne. Por isso, dietas com restrição de laticínios têm sido avaliadas como alternativa complementar no tratamento da acne inflamatória.
4. Gorduras Saturadas e Trans: O Papel das PUFAs e do Desequilíbrio Lipídico na Pele
As gorduras saturadas e trans, comuns em alimentos industrializados, frituras e carnes processadas, favorecem a inflamação sistêmica e alteram a composição lipídica da pele. A baixa ingestão de PUFAs ômega-3 (ácidos graxos poliinsaturados), por sua vez, reduz o potencial anti-inflamatório da dieta.
Esse desequilíbrio prejudica a integridade da barreira cutânea, intensificando a proliferação bacteriana e a inflamação local, com impacto direto na gravidade das lesões acneicas.
5. IGF-1, mTORC1 e FoxO1: Os Mecanismos Bioquímicos por Trás da Acne
O IGF-1 ativa a via mTORC1, que regula o crescimento celular, a síntese proteica e a lipogênese nas glândulas sebáceas. Esse processo é contraposto pela proteína FoxO1, que atua como um freio metabólico.
Quando há excesso de nutrientes na dieta, a sinalização de IGF-1 é amplificada, reduzindo a atividade nuclear de FoxO1. Isso promove uma ativação descontrolada de mTORC1, resultando no aumento da produção sebácea e na obstrução dos poros.
6. Abordagem Dietética no Tratamento da Acne: Modulação de FoxO1 e mTORC1
O tratamento nutricional da acne pode atuar diretamente na regulação dessas vias metabólicas. Dietas com baixo índice glicêmico, ricas em ômega-3, vegetais e proteínas magras contribuem para aumentar os níveis de FoxO1 nuclear e reduzir a hiperatividade de mTORC1.
Além disso, alguns medicamentos usados na acne, como a isotretinoína, também exercem seus efeitos por meio do aumento da expressão de FoxO1, reforçando a importância dessa via na fisiopatologia da acne.
7. Conclusão: Uma Alimentação Antiinflamatória Como Aliada Contra a Acne
A acne é uma condição multifatorial, mas sua relação com a alimentação é cada vez mais clara. A compreensão dos mecanismos moleculares permite que estratégias dietéticas específicas sejam utilizadas como ferramentas terapêuticas complementares no controle da acne inflamatória.
Evitar alimentos inflamatórios, equilibrar o consumo de gorduras e reduzir a ingestão de laticínios e carboidratos simples pode fazer parte de um plano personalizado de cuidados com a pele, aliado a orientações médicas e dermatológicas.
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