A atualização de 2025 das diretrizes canadenses de prática clínica para o manejo farmacológico da obesidade trouxe evidências robustas que consolidam a tirzepatida como uma das opções terapêuticas mais eficazes disponíveis atualmente. Publicado no Canadian Medical Association Journal (CMAJ), o documento enfatiza o papel crescente dos agonistas de receptores duplos GIP–GLP-1 no tratamento da obesidade e na prevenção de suas complicações metabólicas.
Artigo referência: Pharmacotherapy for obesity management in adults: 2025 clinical practice guideline update | CMAJ
O papel da farmacoterapia na obesidade
A obesidade é reconhecida como uma doença crônica multifatorial, associada a mais de 200 condições de saúde. As diretrizes de 2025 reafirmam que o tratamento deve ser abrangente e individualizado, combinando mudanças de comportamento, suporte psicológico, terapia nutricional, atividade física e farmacoterapia.
Mudanças comportamentais isoladas geralmente resultam em uma perda de peso modesta (3–5%) e de difícil manutenção. Por isso, a farmacoterapia de longo prazo é considerada essencial para obter e manter reduções clinicamente significativas no peso corporal e nas complicações relacionadas à adiposidade.
Novas recomendações e fármacos aprovados
Desde a última atualização (2022), o Canadá aprovou dois novos medicamentos para o tratamento da obesidade: tirzepatida e setmelanotida. Atualmente, seis medicamentos contam com aprovação da Health Canada para uso prolongado:
- Tirzepatida (Zepbound)
- Semaglutida (Wegovy)
- Liraglutida (Saxenda)
- Naltrexona–bupropiona (Contrave)
- Orlistate (Xenical)
- Setmelanotida (Imcivree)
Entre eles, a tirzepatida se destaca por promover reduções de peso mais expressivas e benefícios metabólicos adicionais, sobretudo em pacientes com doenças cardiometabólicas associadas.
Tirzepatida: eficácia e segurança comprovadas
A tirzepatida é um agonista duplo dos receptores de GIP e GLP-1, atuando simultaneamente em dois hormônios incretínicos envolvidos na regulação da saciedade, da secreção de insulina e do metabolismo energético.
Em um ensaio clínico randomizado de 72 semanas com 2.539 adultos com índice de massa corporal (IMC) ≥ 30, ou ≥ 27 com comorbidades relacionadas ao peso, mas sem diabetes, a tirzepatida (5 mg, 10 mg ou 15 mg semanais) foi comparada ao placebo.
Os resultados mostraram reduções médias de peso de:
- –15,0% (5 mg),
- –19,5% (10 mg),
- –20,9% (15 mg),
em comparação com apenas –3,1% com placebo.
Esses dados demonstram que a tirzepatida supera amplamente as terapias anteriores em termos de eficácia, com uma diferença média de até –17,8% em relação ao placebo.
Os efeitos adversos mais comuns foram náusea, diarreia e constipação leves a moderadas durante o período de titulação, levando à descontinuação em 4% a 7% dos participantes. Casos raros incluíram colecistite (0,6%), levemente superior ao placebo.
Uso prolongado e manutenção da perda de peso
As diretrizes reforçam que a tirzepatida deve ser utilizada como tratamento de longo prazo, uma vez que a interrupção da medicação leva à recidiva parcial do peso perdido.
Essas evidências sustentam a recomendação de uso crônico da tirzepatida, semelhante à abordagem de outras condições crônicas, como hipertensão ou diabetes.
Benefícios além da perda de peso
A tirzepatida também demonstrou impacto positivo em complicações associadas à obesidade, incluindo:
1. Doença cardiovascular aterosclerótica e insuficiência cardíaca
O medicamento reduziu eventos cardiovasculares adversos em pessoas com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (HFpEF) e obesidade, melhorando sintomas e qualidade de vida.
2. Prediabetes e prevenção do diabetes tipo 2
Em um estudo com adultos com obesidade e pré-diabetes, a tirzepatida reduziu em 93% o risco de progressão para diabetes tipo 2 após 176 semanas de tratamento.
3. Doença hepática gordurosa associada à disfunção metabólica (MASH)
A tirzepatida mostrou benefícios em reduzir inflamação hepática e melhorar a fibrose, o que representa uma nova abordagem terapêutica para essa condição.
4. Apneia obstrutiva do sono e osteoartrite
Estudos demonstraram melhora do índice de apneia–hipopneia e redução de dor no joelho associadas à perda de peso sustentada com tirzepatida.
Comparação com outras terapias farmacológicas
| Medicamento | Redução média de peso | Observações principais |
|---|---|---|
| Tirzepatida | 15–21% | Maior eficácia entre as opções atuais; benefícios cardiometabólicos adicionais |
| Semaglutida | 12–15% | Redução comprovada de eventos cardiovasculares; uso semanal |
| Liraglutida | 8% | Uso diário; boa opção quando semaglutida não é tolerada |
| Naltrexona–bupropiona | 6% | Pode causar náusea, cefaleia e insônia |
| Orlistate | 3% | Efeitos gastrointestinais limitam a adesão |
Segurança e contraindicações
Os efeitos adversos da tirzepatida são, em geral, transitórios e gastrointestinais. A titulação gradual reduz a incidência de desconfortos. Casos de colelitíase ou colecistite são incomuns, mas devem ser monitorados.
O uso deve ser individualizado, considerando comorbidades, preferências do paciente, custo e acesso. O guideline recomenda evitar formulações manipuladas ou não aprovadas pela Health Canada, devido à ausência de garantia de qualidade e segurança.
Perspectivas e implementação clínica
As diretrizes de 2025 defendem que a farmacoterapia para obesidade deve ser incorporada precocemente no curso da doença, e não apenas após falhas em intervenções comportamentais. O uso de tirzepatida, em conjunto com mudanças sustentáveis de estilo de vida, tem potencial para modificar o curso da obesidade e reduzir significativamente o risco de complicações metabólicas e cardiovasculares.
Conclusão
A tirzepatida representa uma das mais importantes evoluções no tratamento da obesidade. Sua eficácia superior na redução e manutenção do peso, associada a benefícios metabólicos amplos, redefine o papel da farmacoterapia na prática clínica. As diretrizes canadenses de 2025 reforçam que o manejo da obesidade deve ser crônico, multidisciplinar e centrado no paciente, com a tirzepatida como uma das principais ferramentas terapêuticas disponíveis.
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