A Doença Hepática Gordurosa Não Alcoólica (DHGNA) é uma condição que afeta um número crescente de pacientes em consultórios médicos. Este aumento reflete a alta prevalência da doença, que, se não tratada, pode evoluir para cirrose e até carcinoma hepatocelular, configurando um grave problema de saúde pública. Neste artigo, abordaremos os principais aspectos da DHGNA, incluindo fatores de risco, diagnóstico e estratégias de tratamento, com base em uma importante revisão publicada pelo The Lancet em 2021.
Artigo: Non-alcoholic fatty liver disease – The Lancet
O que é a DHGNA e por que é um problema crescente?
A DHGNA é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no fígado de pessoas que não consomem álcool em quantidades significativas. Este depósito de gordura pode levar a um processo inflamatório no fígado, resultando em um quadro chamado esteato-hepatite não alcoólica (EHNA). Se não tratada, a EHNA pode evoluir para fibrose, cirrose e, em casos mais graves, para o carcinoma hepatocelular.
Segundo o The Lancet, a supernutrição é uma das principais causas da DHGNA. O excesso de alimentos ricos em calorias e gorduras contribui para a expansão dos depósitos de gordura no organismo, levando ao acúmulo de gordura ectópica, ou seja, em locais não habituais como o fígado. Esse processo está intimamente ligado ao aumento da obesidade e de doenças metabólicas na população.
Fatores de Risco para o Desenvolvimento da DHGNA
Compreender os fatores de risco da DHGNA é essencial para a prevenção e o tratamento eficaz da doença. De acordo com a revisão do The Lancet, fatores como diabetes, obesidade, dislipidemias (como altas concentrações de triglicerídeos e baixas concentrações de HDL) e hipertensão estão entre os principais agravantes da DHGNA. Esses fatores não só aumentam o risco de desenvolvimento da DHGNA, mas também a gravidade do quadro.
- Diabetes Mellitus Tipo 2: Indivíduos com diabetes têm um risco elevado de desenvolver fibrose hepática e, em estágios avançados, cirrose e carcinoma hepatocelular. O controle adequado dos níveis de glicose é crucial para minimizar o impacto do diabetes sobre a progressão da DHGNA.
- Obesidade e Síndrome Metabólica: A obesidade é um dos maiores fatores de risco para a DHGNA. Além de contribuir diretamente para o acúmulo de gordura no fígado, ela está associada a diversas outras comorbidades que agravam a saúde hepática, como hipertensão e dislipidemias.
- Diminuição do HDL e Aumento dos Triglicerídeos: O perfil lipídico alterado, caracterizado pela baixa concentração de HDL (colesterol “bom”) e altos níveis de triglicerídeos, é um importante fator de risco para o desenvolvimento e progressão da DHGNA.
- Hipertensão Arterial Sistêmica: Pacientes com hipertensão apresentam maior risco de progressão para formas graves da doença. O controle da pressão arterial é essencial para reduzir as chances de complicações hepáticas.
Importância do Diagnóstico Precoce da DHGNA em Pacientes de Alto Risco
O diagnóstico precoce da DHGNA é fundamental para reduzir a progressão da doença e evitar complicações. Pacientes diabéticos, obesos e hipertensos devem ser cuidadosamente avaliados para a presença de DHGNA, já que fazem parte do grupo de alto risco.
Médicos devem realizar exames de imagem, como ultrassonografia, para identificar a presença de esteatose hepática em pacientes de risco. Em casos onde a suspeita de progressão para esteato-hepatite ou fibrose é elevada, podem ser necessários exames complementares, como elastografia hepática, ressonância magnética ou até mesmo uma biópsia hepática.
Estratégias de Prevenção e Tratamento da DHGNA
A prevenção e o tratamento da DHGNA envolvem uma abordagem multifatorial, que inclui mudanças no estilo de vida, controle rigoroso de comorbidades e, em alguns casos, o uso de medicações específicas.
1. Modificações no Estilo de Vida
O pilar do tratamento da DHGNA continua sendo a modificação do estilo de vida, que abrange a adoção de uma alimentação balanceada, prática regular de atividade física e perda de peso. Estudos indicam que a perda de 7% a 10% do peso corporal pode reduzir significativamente a gordura hepática e a inflamação.
2. Controle de Doenças Metabólicas Associadas
Além da mudança no estilo de vida, o controle das comorbidades metabólicas é fundamental. A revisão do The Lancet reforça a importância de monitorar e manejar fatores como diabetes, hipertensão e dislipidemias. Para isso, é essencial que os pacientes sejam acompanhados regularmente por profissionais de saúde, visando o controle contínuo desses fatores de risco.
3. Uso de Medicamentos: Inibidores de SGLT-2 e Agonistas de GLP-1
O uso de inibidores de SGLT-2 (como empagliflozina e dapagliflozina) e agonistas de GLP-1 (como liraglutida e semaglutida) tem sido avaliado como adjuvante no tratamento da DHGNA, especialmente em pacientes com diabetes. Estudos mostram que esses medicamentos, além de ajudarem no controle glicêmico e na perda de peso, podem contribuir para a redução da gordura hepática e da inflamação, dois fatores críticos na progressão da DHGNA.
Conclusão
A DHGNA é uma doença complexa e multifatorial que afeta um número crescente de pessoas, devido à prevalência de fatores como obesidade e diabetes. A revisão publicada pelo The Lancet em 2021 destaca a importância do diagnóstico precoce e do controle rigoroso das comorbidades para prevenir a progressão da doença.
O manejo da DHGNA exige uma abordagem integrada, que inclua modificações no estilo de vida, controle de doenças metabólicas e, em alguns casos, o uso de medicações específicas. Ao implementar essas medidas, os profissionais de saúde podem ajudar a reduzir o impacto da DHGNA e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
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